domingo, 11 de maio de 2008

sótãos

Já lá vai o tempo em que tudo me parecia trivialmente grande, até a minha mãe eh eh...
Cresci num apartamento, e lembro-me de ver o jardim da frente ainda em terra batida, e lembro-me de todas as fases de crescimento das plantas que hoje se encontram lá. Aquelas árvores assistiram a todas as minhas brincadeiras, às minhas chegadas da escola, e a muitas saídas nocturnas, e foram sempre cúmplices da minha adolescência.
Pois... e que têm as árvores a ver com sótãos??? Nada. Apenas ambos marcaram o meu crescimento.
O meu prédio tinha cinco sótãos, o da vizinha do quinto andar era uma casinha de bonecas autêntica, o meu sótão era um mistério para mim, mais do que o anterior, entrar no meu era quase ganhar a lotaria, e era quase um acontecimento anual, estava repleto de caixas muitas da quais só abertas recentemente, tinha baús como nos filmes, com a vida da minha mãe, com as revistas do meu pai ( foi naquele sótão que descobri que a minha mãe era quase arquitecta, estavam lá os projectos dela, as réguas; e foi lá também que encontrei as revistas que o meu pai lia aquando do seu internamento em Árica; foi naquele sótão que descobri que eles haviam vivido muito bem, sem os apertos actuais e foi ali que me apercebi que a minha mãe havia sido uma fashion victim).
Quando cresci, gradualmente os meu brinquedos foram desaparecendo de casa, e nunca me ocorreu o seu destino. Ah ah !!! até ao dia em que numa das minhas visitas prémio anuais, me reencontrei com eles naquele compartimento ali tão longe e ao mesmo tempo tão perto.
Entre mim e aquele sótão haviam sempre décadas de distância e visitá-lo era ser invadida por uma alegria nostálgica, foi assim que conheci das pessoas que tanto me dizem, facetas ainda longíquas da minha existência... foi a única parte da casa que me fez chorar quando mudei. E ironia do destino agora durmo num sótão, procuro desenfreadamente nele a mesma magia, mas não a tem, porque subir estas escadas é algo trivial, já não sabe a prémio... e as caixas que antigamente existiam, estão agora em prateleiras ao simples alcance de um gesto.

1 comentário:

Tâmarinha disse...

O desconhecido encanta sempre mais, mas isso não significa que não possa existir magia ou curiosidade naquilo que já faz parte do nosso dia-a-dia, naquilo que já nos é conhecido.
Eu gosto do teu sótão, e sendo que nem vives mesmo nele.. podias fazer brincadeiras com ele.. não sei o que têm as tuas caixas, mas sei que és suficientemente interessante para encher várias de memórias adoráveis.. eu, pelo menos, gostaria muito de as ler, e de as sentir.
Uma coisa é certa.. quando os "nossos qualquer coisas" existirem, e forem passar dias frios de Inverno e quentes de Verão a Mirandela, vão com certeza deliciar-se com o teu sótão... só espero que tenhas lá memórias minhas também [hihi]... (;*